quarta-feira, 13 de abril de 2011

Sobre indução estética

   Estética não se trata apenas de algo visual, referente a formas geométricas ou arranjos espectrais. Há estética em tudo aquilo que se relaciona ao ser humano. Há estética nos sons, nos comportamentos, nos posicionamentos sociais e inclusive em simples ações. Estética é um sinônimo para indução, partindo de uma manifestação qualquer que carrega consigo definições pré-instituídas e direcionadas, por vezes com valoração.
   O amor, ou afeição biológica, da mulher é de uma grande inconsistência, uma vez que está profundamente enraizado nos efeitos da estética e estacionado, perdido, em algum ponto entre referência e objeto, não entrando em contato diretamente com a fonte, perdendo-se em metáforas pelo caminho. A mulher apaixona-se não pelo objeto em si, e sim pela estética, ou metáfora, ou valor atribuído que este representa. Não digo que o homem também não se apaixone por estética; a diferença é que ele geralmente se apaixona por apenas uma estética peculiar: a própria estética feminina despida de outras estéticas posteriormente atribuídas. Imagine o leitor (e muito perdão e bondade haja para com o uso desta infantil e ultrapassada história bíblica) que Adão tenha se apaixonado por Eva enquanto um ser feminino existente em seu corpo e personificação física, como um bloco fechado de algum material acabado, agradável de diversas maneiras e fixante, talvez tão fixante quanto um ídolo, um marco, ou talvez tão fixante quanto o amor da conquista - e assim seria até mais fixante que o mar, a lua e as estrelas. Mas, quanto a Eva, esta apenas aceitou o Adão por falta de escolhas. Dessa forma, chega-se à seguinte reflexão: O que teria sido dessa história bíblica se no Éden tivessem habitado outros homens? Eva teria tido à disposição de sua escolha um número maior de estéticas e relações políticas se estabelecendo no meio, e nisso poderia o pobre Adão ter ficado até sozinho com sua fruta. Mas se, pelo contrário, estivessem nesse Éden um único Adão e inúmeras Evas, ainda assim estaríamos falando de um fenômeno de encantamento sincero da parte daquele, se se tratasse de um homem comum e modesto, ou seja, que desejasse não mais de uma mulher, pois o nosso Adão escolheria aquela que sinceramente mais lhe agradasse, livre de posicionamentos segregacionistas impulsionados por forças de natureza social.
   O que se chama de amor para o homem não pressupõe um tremendo esforço de muita análise. É ação e reação, causa e efeito. De fato, não há nada do que as mulheres acreditam no amor do homem. O amor do homem é realmente simples e primitivo, objetivo e prático. Está estreitamente associado ao desejo carnal, mental e de preferências biológicas, que se motivam a partir do reconhecimento, em determinada mulher, das características físicas ou psicológicas que mais fascinam e agradam ao indivíduo masculino. Todo homem espera por uma mulher que lhe seja agradável, e isso é quase tudo o que ele espera - ao contrário da mulher, que, além de rigorosamente esperar que o homem lhe seja agradável, ainda é fundamentalmente e decisivamente influenciada pelos valores que outrora, por exposição ao meio e às condições de sua vivência anterior, por outras imagens masculinas de sua referência, lhe foram implantados, tornando-se os parâmetros de seus atos e escolhas futuros. O amor da mulher está envolto em densas camadas dos valores que representam suas carências mais íntimas, valores que exalam também de si mesma, uma vez que o homem é o pai de seus filhos, e, como tal, passa por um complexo sistema de avaliações comparativas, validativas, políticas e estéticas que objetivam tornar bem-sucedido, do ponto de vista feminino, o processo reprodutivo.
   A vida tem pressa e é egoísta: em sua consciência misteriosa, sempre quer existir, e não há razão que possa silenciar ou impedir tal força que faz estrelas nascerem, cria sistemas planetários, explode vulcões e faz a chuva, tudo para gentilmente poder plantar a sua semente, e ver nascer a sua flor.

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